sábado, 14 de agosto de 2021

O que você deseja?

    


    O quarto estava quase vazio, nele só era possível observar uma mesa e sobre ela uma caixa. Sua porta foi aberta por um homem de terno preto. Ele se dirigiu até a mesa que estava no quarto sem janelas, iluminado por uma lâmpada de luz alaranjada. O homem retirou uma chave dourada de seu bolso e com ela abriu a caixa, depositou no seu interior um pequeno objeto e fechou a caixa novamente. Guardou a chave no bolso do paletó.
Ao sair do quarto, olhou para os dois lados do corredor por alguns momentos, então começou a andar com calma, mantendo a compostura. Sabia que era seguido. Afinal, o objeto que tinha deixado na caixa do casarão em ruínas era muito poderoso. Se tratava de uma chave, semelhante a qual o homem de terno preto tinha usado para abrir aquele que seria o habitat temporário do objeto.

    Esta pequena e inofensiva chave dourada era capaz de abrir qualquer porta. Ela era capaz de adquirir o formato de qualquer fechadura e se estivesse em mãos erradas poderia ser usada para propósitos ruins. Marcos era o seu último guardião. Ficara com o objeto por três perigosíssimos anos, nos quais quase fora morto em diversas ocasiões. Agora, tinha recebido ordens superiores para deixar o objeto naquele casarão completamente abandonado, à espera de que seu próximo guardião viesse buscá-lo.
    

    Marcos sentira por diversas vezes a tentação de usar a chave, testar seu poder, mas era extremamente proibido para o seu guardião fazer uso do objeto. Na verdade, era-lhes dito que a cada vez que a chave mágica era usada o mundo no qual habitavam sofria uma desestruturação. Como o seu trabalho era proteger esse mesmo mundo, sendo guardião de objetos mágicos perigosos, Marcos usara de toda sua força de vontade para vencer a sua tentação e continuar cumprindo seus propósitos. 

    O objeto do qual falamos, no entanto, possuía um grande poder de atração. As pessoas que estavam de posse dele, passavam a maior parte do tempo a pensar nas possibilidades que o seu uso lhes proporcionaria. Poderia ser um homem rico, roubar um banco, sem ninguém ficar sabendo, este era um dos desejos mais comuns. A chave sabia como entrar na mente de seus guardiões e descobrir seus desejos mais secretos, fazendo com que sonhassem usá-la para adquirir aquilo que mais queriam. Por conta disso, os guardiões não podiam ficar muito tempo com ela. 

    Marcos deixara o edifício a pensar na chave ainda. Foram três anos de sonhos, nos quais ele abria um portal para o passado. Este era o seu sonho. Impedir todas as grandes catástrofes do mundo. A chave fazia-o crer que este objetivo fazia muito mais sentido do que protegê-la e não usá-la. No entanto, ele resistiu e agora suspirava resignado. Minha guarda chegou ao fim.


    Do outro lado da cidade, o novo guardião recebera o seu chamado. Era hora de servir a um novo propósito, uma nova chance de mostrar o seu valor. 
Miguel voara baixo, procurava o seu destino. O velho casarão de uma colina muito alta. Sabia que essa atitude era perigosa. Quem o visse não resistiria muito tempo ao seu brilho angelical e definharia até a morte.
    

    Mas fora preciso, as nuvens estavam densas, pesadas e muito escuras. Pareciam pressentir algo ruim se aproximando, algo perigoso, que espreitava nas sombras, esperando a hora de atacar. 

    Finalmente avistara o casarão, quem o visse, correria de medo. Era um lugar sombrio, em ruínas e que parecia guardar em seus cantos, tudo de ruim do mundo. Incluindo um objeto tão perigoso quanto. Ele não via como algo, de tamanho poder, não fora destruído ainda. Para que benefícios seria usado? Para qual objetivo ele seria bom? Não havia nada, que ele pensasse, que valesse a pena tamanho risco.

    Ele aterrissou e com um estampido abriu a porta, caminhou pelos corredores escuros e deteriorados, com a sensação de estar sendo vigiado pelas sombras, mas como seria possível? Ninguém, a não ser um anjo, poderia chegar perto dele. 
    

    Ao abrir a porta, Miguel levou um susto e logo em seguida entrou em desespero. Como isso aconteceu? Fazia pouco mais de vinte minutos que o outro guardião saira da casa para nunca mais voltar. Fizera pouco mais de cinco minutos que ele havia chegado, não havia como alguém ter entrado, pegado a caixa e fugido, sem que ele ou o antigo guardião tivesse visto. 

    Miguel estava em pânico, uma dúvida o assolava. Ele avisava aos superiores ou tentava ele mesmo recuperá-la? E quem havia pego?
    

    Foi nesse momento que algo lhe ocorreu, poderia o antigo guardião não ter deixado a caixa? Terá ele pego a chave? Não ter resistido a esse poder?

    Miguel voara por cada canto daquela maldita casa, revirara cada canto em busca de um sinal, uma pista, qualquer coisa que pudesse levá-lo a algum lugar. Voara pelo jardim, passara por árvores de todos os tipos, que já estavam a muito tempo mortas. Vasculhara o labirinto de pedras que um dia já abrigara estátuas, fontes quebradas, rachadas e que hoje era abrigo de musgos, insetos e outras coisas que nem tinham descrição. Aquele lugar o arrepiava, mas com certeza não havia nada ali.

    Fora da casa, Miguel avistou um vulto se dirigindo a um grande mar não muito longe dali. Intrigado, resolveu seguir o vulto, pensando que esse poderia ter sido o ladrão da caixa. Miguel então voara o mais rápido que podia em direção ao vulto. Avistou ainda de longe com seus olhos atentos de anjo: era Marcos segurando embaixo de seu braço direito a tão secreta caixa correndo em direção ao mar.


    Miguel, indignado voa ainda mais rápido tentando alcançar Marcos. Este olha para cima e vê o anjo se aproximando e corre insanamente, sem conseguir mais pensar em como escapar. Marcos então se joga no mar e começa a nadar ferozmente até achar uma saída. O anjo, como não nadava, começou a sobrevoar o mar até que perdeu o antigo guardião da chave de vista.


    Marcos não aguentava mais nadar, estava perdendo suas forças, então avistou uma pequena ilha do outro lado do mar e pensou preciso chegar até ela, será a única forma da chave ser para sempre minha. Então começou a nadar com muita garra até o outro lado do mar, quando avista algo terrível: um grande tubarão azul vindo em sua direção. Marcos começa a tremer de medo e tenta voltar mar a dentro, mas o tubarão sente seu cheiro de carne fresca e começa a perseguí-lo. Não há mais para onde fugir, vou morrer. Depois de anos em que essa chave me protegeu, hoje será o dia da minha morte
    

    Tudo o que ele podia fazer naquele momento era se entregar ao tubarão ou voltar para terra firme mais próxima e ser obrigado a perder a chave para sempre e conviver o resto da vida com isso. Ele, então, joga a caixa com a poderosa chave para longe e se entrega a ferocidade do grande tubarão que come sua perna direita em apenas uma bocada. Sem forças para poder nadar e voltar para terra firme, acaba sendo comido pelo tubarão em questão de minutos.


    Miguel, lá de cima, avista uma enorme mancha de sangue no mar e a caixa boiando. Meu Deus, não será possível! Pedaços do corpo de Marcos boiam junto a caixa, levados pelo mar. O anjo, aterrorizado com a cena, olha para os lados e tenta pegar a caixa que está ainda boiando no mar. Eu não quero ser guardião de um tesouro desses, olha o que aconteceu com ele após todo esse tempo. Miguel então leva a caixa de volta a casa e deixa ela lá, esperando que algum dia, outra pessoa viesse encontrá-la. Curioso, Miguel abre a caixa para ver o tão temido objeto. Uma chave… uma simples chave pode nos tornar tão egoístas e controladores a ponto de morrermos por isso? Então ele fecha a caixa e sai da casa para nunca mais voltar.


    Dentro da caixa, havia uma mensagem que nunca ninguém havia lido “O detentor desta chave será abençoado por toda sua vida enquanto a possuí-la e deverá deixá-la dentro dessa caixa ao final de sua guarda. Aqueles que forem afetados pelo poder de sedução da chave, serão cruelmente mortos pelo destino da avareza”.

Autoras: Cristieli Machado, Laura Dapper e Stephanie Dariva

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